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“Não podemos aceitar nenhum tipo de censura”

O holandês Erik de Kruijf é o comissário da WPP em Macau. Todos os anos viaja o mundo, montando a mais popular exposição de fotografia internacional. Apesar do certame já cá ter estado quatro vezes, este é o primeiro ano de Kruijf na RAEM.

 

Quais são os temas fortes desta edição do WPP?

Erik de Kruijf – O que se vê aqui só se refere ao que aconteceu em 2010 e antes. Um dos temas mais fortes são as catástrofes naturais, como o terramoto no Haiti, as cheias no Paquistão e a erupção de um vulcão na Indonésia. De resto não acho que exista um tema claro. É tudo fotojornalismo, mas algumas fotos são mais noticiosas que outras. Algumas reportam mesmo um acontecimento, como os tumultos em Banguecoque, no ano passado. Mas também temos uma reportagem sobre uma mulher americana que é seguida pelo fotógrafo durante 18 anos, que conta a vida dela, dos seus 18 anos até morrer, aos 36.

– A faceta política das vossas fotos causa-vos problemas?

E.K. – Nós somos uma organização totalmente não-política. Mas muitas vezes as fotos tocam em temas sensíveis. Felizmente não temos muitos problemas, mas já aconteceram alguns incidentes. Tudo o que seja em torno de Israel pode ser complicado. Em Marrocos, por exemplo, há uma bandeira do Polisário, um grupo de pessoas que moram no [deserto do] Sahara, que não pode ser mostrada. Lembro-me que há uns anos uma imagem muito, muito pequenina da bandeira aparecia numa das fotos e por isso não podemos ter a exposição em Marrocos. Se um país não aceitar uma determinada imagem, não expomos lá. Somos 100 por cento a favor da liberdade de expressão e acreditamos na circulação livre de informação, não podemos aceitar nenhum tipo de censura.

– O fotojornalismo está em crise. Os jornais têm vindo a cortar nos fotógrafos e a desinvestir na fotografia…

E.K. – Às vezes as pessoas perguntam-me se eu acho que ainda somos relevantes, já que o fotojornalismo está a morrer. Não acho que esteja. Está a passar por uma fase muito difícil, isso é certo. Pede-se muito aos jornalistas para levarem uma câmara e, já agora, tirarem umas fotos também. E por vezes até o contrário, pede-se ao fotógrafo para escrever um artigo. Porque assim só se paga a uma pessoa. Infelizmente isso prejudica a fotografia de qualidade. A boa notícia é que a fotografia é cada vez mais popular, toda a gente pode tirar fotos e toda a gente gosta de as ver. Acredito que ainda estaremos dispostos a pagar por elas, a longo prazo. Sim, estes são tempos difíceis para a fotografia, mas ela sobreviverá. I.S.G.

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