Crónica

Escrita na Brisa (Yao Feng)

O poeta

 

O poeta corre, salta e mergulha na palavra para lhe medir a dimensão, a altura e a profundidade.

O poeta bebe o fogo para ter mais sede. Bebe a solidão para se sentir bem acompanhado. Bebe o vazio para tornar o coração um pouco maior do que o universo.

O poeta precisa de muletas antes das asas porque percorre o seu caminho mais na terra do que no céu.

O poeta escreve no papel, na terra, nas águas, na pedra, no corpo, na palma da mão ou nas nuvens sentado no cimo da chaminé.

O poeta vive de pé mas ajoelha-se quando chegar a Musa.

O poeta não canta no coro.

O poeta não só canta como rouxinol mas também grita em voz de ferida, mesmo com o nó na garganta.

O poeta faz com que uma árvore corra para fugir ao machado ou uma cadeira seja enraizada na terra para voltar a ser árvore.

O poeta escreve sempre na primeira pessoa mesmo quando conjuga o verbo na terceira pessoa.

O poeta é um bom tradutor do silêncio.

O poeta não dorme mas sonha.

O poeta pode jantar com o presidente ou chegar a ser o seu amigo mas não pode servir-lhe como um funcionário, o que nāo funciona para ser poeta

O poeta consegue fazer um poema depois de rasgar relatórios.

Deixe um comentário