O poeta
O poeta corre, salta e mergulha na palavra para lhe medir a dimensão, a altura e a profundidade.
O poeta bebe o fogo para ter mais sede. Bebe a solidão para se sentir bem acompanhado. Bebe o vazio para tornar o coração um pouco maior do que o universo.
O poeta precisa de muletas antes das asas porque percorre o seu caminho mais na terra do que no céu.
O poeta escreve no papel, na terra, nas águas, na pedra, no corpo, na palma da mão ou nas nuvens sentado no cimo da chaminé.
O poeta vive de pé mas ajoelha-se quando chegar a Musa.
O poeta não canta no coro.
O poeta não só canta como rouxinol mas também grita em voz de ferida, mesmo com o nó na garganta.
O poeta faz com que uma árvore corra para fugir ao machado ou uma cadeira seja enraizada na terra para voltar a ser árvore.
O poeta escreve sempre na primeira pessoa mesmo quando conjuga o verbo na terceira pessoa.
O poeta é um bom tradutor do silêncio.
O poeta não dorme mas sonha.
O poeta pode jantar com o presidente ou chegar a ser o seu amigo mas não pode servir-lhe como um funcionário, o que nāo funciona para ser poeta
O poeta consegue fazer um poema depois de rasgar relatórios.