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Aquele clube

Está na memória de quase todos os que viveram as décadas de 1980 e 1990 no território e que apreciam a música. A referência ao Clube de Jazz de Macau, que hoje atravessa um período de inactividade, é inevitável em conversas com músicos das gerações mais novas.

Recorda-se o rés-do-chão do número 9 da Rua das Alabardas, que durante 15 anos foi sede da instituição, e a mais recente casa de vidro, junto à estátua de Kun Iam, onde o clube permaneceu até 2002. E lembra-se a mais de uma dezena de festivais ou concertos organizados, que trouxeram até cá músicos portugueses, norte-americanos, franceses, japoneses – “todos de primeira linha”, conta Miguel Campina, fundador do clube, cuja direcção integrou até 2004.

“O registo notarial ocorreu no dia 9 de Julho de 1985 e os estatutos foram publicados a 3 de Agosto do mesmo ano”, recorda Campina sobre o certificado de nascimento da instituição que tinha originalmente como missão divulgar o jazz, fomentar o intercâmbio com instituições similares, organizar uma discoteca e videoteca da especialidade, e apoiar as iniciativas dos sócios.

A movimentação para a criação do clube tinha sido iniciado uns anos antes, por um grupo de aficionados do jazz. Em 1984, Campina, arquitecto e também músico, chegou ao território e juntou-se aos amadores do género para fundar a colectividade.

Baterista, um dos quatro membros do conjunto The Bridge, Miguel Campina recorda mais de uma dezenas de festivais e concertos dos quais ainda hoje as paredes do bar do Clube Militar guardam a memória numa série de posters que nelas estão afixados. O fundador recorda alguns nomes do jazz que passaram ao longo dos anos por cá: de Portugal, Mário Laginha e Maria João, José Eduardo e Tomás Pimentel, vários músicos norte-americanos como Jimmy Witherspoon, Ray Briant, Houston Person e Joanne Brackeen; o britânico Martin Taylor, do Brasil, Nana Vasconcelos, e quantos outros de França, do Japão e ainda de Hong Kong.

“Foi-se desenvolvendo uma apetência do público relativamente a estes festivais. Tanto mais que, na maior parte dos casos, músicos de grande nome vinham só a Macau. Nós tínhamos a visita de muitos amadores de jazz de Hong Kong”, recorda dos concertos a que sucediam jam sessions com “sessões memoráveis que duravam até altíssimas horas”. Havia também workshops – “tinham alguma popularidade junto dos músicos locais”, lembra Campina. “É natural que as pessoas se recordem com alguma nostalgia dos concertos que foram acontecendo ao longo dos anos”, diz.

No período de maior actividade, o Clube de Jazz de Macau chegou a ter uma centena de sócios. Viveu períodos altos e baixos, uma mudança de sede para a casa de vidro – que durou dois anos, com o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais a cessar o acordo sobre as instalações em 2002 – e também algumas “diferenças” de pontos de vista entre os membros sobre a estratégia a adoptar pela instituição no pós-1999.

Depois da transferência de Administração, “as autoridades não viam com grande interesse dar apoio nesta área”. “Por outro lado, não existia vontade e massa crítica suficiente para levar por diante um projecto que é sempre extremamente difícil de concretizar na base do amadorismo”, considera.

Hoje, não se houve falar do clube. Mas Miguel Campina mostra-se satisfeito com o surgimento de organizações como a Associação de Promoção do Jazz de Macau. “Veria com muito bons olhos que conseguissem criar o mínimo de condições, não só para eles poderem dar corpo àquela que é a razão fundamental deste grupo, que é poderem tocar ao vivo, mas para desenvolver também a aprendizagem do jazz”, afirma. M.C.

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